Um olhar para as pessoas atendidas pelo projeto Orquestra Inclusiva Humaniza faz deparar com personagens interessantes, cuja estória de vida na maioria das vezes controversa só faz realçar a importância da iniciativa. Nence Bertolani é uma dessas pessoas desprezadas pela vida e a sociedade, e cujo infortúnio acaba escondendo uma grande sensibilidade artística.
Nence tem 43 anos e é natural do Paraná, tendo chegado a Limeira aos 10 anos de idade. Aos 22 e sem qualquer alternativa de emprego passou a prostituir-se para a subsistência, período da vida do qual não guarda boas lembranças. Em todo este tempo, porém, uma companheira esteve ao seu lado sempre: a poesia.
A vontade de mudar de vida a fez se integrar ao projeto Vitória, iniciativa do serviço de promoção social do município. Pelo projeto, as profissionais do sexo são capacitadas em atividades profissionalizantes como o curso de montagem de bijouteria, ou mesmo o curso de empreendedorismo promovido pelo Sebrae. Além disso, o amparo psicológico das assistentes sociais abre as portas da percepção para outras realidades não só de trabalho, mas de vida. Foi o início da virada na vida de Nence.
Sabedor do enorme potencial do Vitória, foi nele que a Orquestra Inclusiva Humaniza foi buscar suas usuárias. Por seu lado, ao saber sobre a Orquestra Inclusiva Humaniza, a poeta Nence se interessou e logo aderiu principalmente pela oportunidade do contato com outra forma de arte: a música. “Sempre tive essa curiosidade com música”, afirma.
Desde março, Nence participa do projeto e vem tendo aulas de música no Centro Comunitário do Parque Nossa Senhora das Dores, além de aulas de canto no Centro Cultural. Está praticando flauta e violão, mas tem preferência por ocupar outro espaço na Orquestra. “Gosto da produção, gosto de providenciar todo o equipamento musical e de preparar o ambiente para uma apresentação perfeita”, explica.
Com todo este histórico de poetiza aliado à sua empolgação, a participação de Nence na Orquestra não poderia deixar de ser diferenciada. Durante a elaboração do repertório, seus poemas serão musicados pela equipe técnica de maestros, e Nence passa a ser uma colaboradora remunerada do projeto. “A experiência abriu um novo horizonte para mim, e com certeza pretendo seguir realizando alguma atividade ligada à música”, finalizou.